“(…)Andava a adiar este contacto mas, subi as escadas e ela estava lá em cima, apanhou-me no corredor e, durante para aí umas 2 horas, contou-me tudo, desde a primeira vez que a levou ao hospital até ela morrer. No fim, ainda puxou do telemóvel para me mostrar uma fotografia da filha no caixão! Eu já estava angustiada e, aí não me contive e, desatei a chorar à frente dela. Sei que não o devia ter feito e não sei o que se passa comigo e me levou a não ter capacidade para lidar com esta situação(…)”.
Mas não é a discussão sobre uma intervenção multidisciplinar a de que me ocupo hoje, essas barreiras epistemológicas caberão, certamente, a um outro momento.
Uma análise linear deste episódio pode ocasionar uma reprovação imediata, assim como o velho ditado não admite que um homem chore, menos admissível é que o choro venha de um profissional no exercício da sua actividade. Esta humanidade está-lhe vedada nesta sociedade tecnicista.
Ninguém fica indiferente à morte, menos ainda quando esta ceifa vidas em início de percurso. As crianças, ao olhar adulto, trazem consigo uma redoma protectora que as apresenta como seres imortais, fazendo absurdo qualquer percalço.
Por isso, amiga, não te escudes na técnica para te escusares a ser humana e continua a inquietar-te, porque é vital enquanto garantia de um agir emocionalmente inteligente! E, se a tua humanidade deu lugar ao choro, que tantas vezes foi riso, então é porque ainda és capaz de continuar!