22 fevereiro 2007

Sabes... talvez fusão?!

Sabes quando duas coisas se unem, mas conservam a sua identidade pessoal, reforçando-a?
Sabes quando não identificas onde começas tu e acaba o outro e vice-versa, e isso não te despersonaliza, só te torna mais completo?
Sabes quando as tuas alegrias reforçam as minhas?
Sabes quando as tuas mágoas e agonias me colocam no caminho de contigo engendrar soluções para as converter positivamente?
Sabes quando o teu silêncio é também sinal sonoro?
Sabes quando o sentir-te escusa palavras?
Sabes quando sintonizo o que sentes e pensas, diria, quando telepaticamente comunicamos?
Sabes quando a imensidão do afecto ultrapassa a barreira do teu corpo físico?
Sabes quando não precisas de nada para teres mesmo tudo?
Sabes quando fazemos das banalidades quotidianas coisas deveras especiais?
Sabes quando partilhar é expressão do dia-a-dia?
Sabes quando a interdependência surge como mais valia?
Sabes quando os teus sorrisos rasgados me enchem a alma?
Sabes quando o respeito não é exigido mas se torna devido?
Sabes quando a tua luz me ilumina?
Sabes quando a confiança acontece?
Sabes, talvez possamos chamar-lhe
fusão?!...


Caucau

07 fevereiro 2007

(Um) Caminho...


"Sem saber se o tempo existia, se aquele desfilar durara um segundo ou cem anos, se existia um Siddartha ou um Gautama, um Eu e outros, profundamente ferido por uma seta divina que lhe causava prazer, profundamente fascinado e exaltado, Govinda permaneceu ainda um momento inclinado sobre o rosto pacífico de Siddartha, que acabara de beijar, o rosto que fora o palco de todas as formas presentes e futuras. O seu semblante não se modificara, depois do espelho das mil formas se ter apagado da superfície. Sorria pacífica e ternamente, talvez muito graciosamente, talvez muito ironicamente, tal qual como o Sábio sorria. Govinda fez uma vénia profunda, enquanto lágrimas incontíveis lhe deslizavam pelo rosto velho. Avassalava-o um sentimento de grande amor, da mais humilde veneração. Inclinou-se muito, até ao chão, defronte do homem imóvel, cujo sorriso lhe recordava tudo quanto jamais amara, tudo quanto jamais fora valioso e santo na sua vida."

in Siddartha, Hermann Hesse

05 fevereiro 2007

À Sorte!


Quase lhe chamaria sorte,

encontrar o Norte

sem tão pouco o procurar!


À sorte nos entregamos,

sem medo dos mortos

que fomos capazes de enterrar.


Imprudente, dizem do amor,

mas esse é o seu esplendor

que a sorte nos fez encontrar!


Caucau

03 fevereiro 2007

Sempre Elis!


Aproveitando as comemorações dos 25 anos volvidos sobre a morte de Elis Regina, deixo aqui este singelo apontamento enquanto sua fã.
Tinha uns 19 anos quando pela primeira vez escutei a mestria da sua voz. A sensação foi de arrepio.
A união da virtuosidade técnica à expressão, sublime, dos sentimentos, soaram-me a magia. Não se explica, sente-se.
A emoção, a energia, a ira, a revolta, o sarcasmo, a sátira, a liberdade, a inteligência, a sensualidade, o doce disfarçado de amargo apresentaram-ma como uma "força da Natureza".
A lucidez de uma mulher, de uma artista, que tão incomodamente aproveitava as inúmeras entrevistas para trazer à ribalta os atropelos sobre os Direitos Humanos, ainda hoje tão presentes, no país que a viu nascer.
Ontem, hoje e sempre o meu ouvido e a minha alma continuam a solicitá-la, devotamente!

Caucau

Deixo aqui alguns excertos de entrevistas realizadas à "Pimentinha":

"Ela é uma mutante confessa:

Eu sou meio mutante mesmo, mas antes eu me sentia um pouco perdida. Aquilo que eu estava fazendo não combinava com o tipo de música que eu estava querendo cantar. Aquele negócio de você ver o capim crescer na sua casa sem tomar providência nenhuma. Um dia você se dá conta e o capim já virou mato e aí você sente que está emaranhada nele. Então tem que cortar o mato. É difícil mas é bom porque você se deu conta, entende? (Zero Hora/ 1974)

Uma permanente pesquisadora:

Aprendi que a vida é feita de dois lados. Você precisa conhecer o lado torto para conhecer o lado bonito. Então, nesse sentido, todas as experiências pelas quais nós passamos são absolutamente válidas (O Globo/76)

Uma criatura preocupada:

De excelentes cantoras o Brasil e o mundo andam cheios. A mim não me interessa ser uma boa cantora a mais. Quero o usar o dom que a Mãe Natureza me deu pra diminuir, com ele, a angústia de alguém. Essa idéia é que pode dar sentido ao meu trabalho. E é por isso que cultivo essa idéia com carinho, todo dia (Correio do Povo/ 75)

Uma grande amiga:

Eu só acredito em trabalho em conjunto e sou do tempo em que os grupos se reuniam. E minha maior preocupação era realmente fazer com que meu grupo fizesse por onde merecer esse nome (Última Hora/76)

Uma pessoa de fé:

Quero sofrer tudo até a última gota, quero tudo a que tenho direito – as coisas boas e ruins – e não pretendo deixar nada pra ninguém (Jornal do Brasil/ 76)"