24 dezembro 2006

Nós...ou o que chamam PAZ!


Desejaram-me, por inúmeras vezes, com sincero afecto e elevada estima, que os meus sonhos se tornassem realidade. Hoje, entendo que este é um desejo tão modesto quanto sentido, face ao que a realidade é capaz de proporcionar! A realidade superou o melhor do meu mundo onírico!
Apesar de alguma capacidade de retórica e de oratória, de que me apontam detentora, as palavras limitam, as reflexões surgem-me vãs! Escuso-me às palavras face à imensidão do sentir-te, do sentirmo-nos... em simbiose, em PAZ!
Caucau

01 dezembro 2006

Labirinto ou não foi nada


Talvez houvesse uma flor
aberta na tua mão.
Podia ter sido amor,
e foi apenas traição.
É tão negro o labirinto
que vai dar à tua rua. . .
Ai de mim, que nem pressinto
a cor dos ombros da Lua!
Talvez houvesse a passagem
de uma estrela no teu rosto.
Era quase uma viagem:
foi apenas um desgosto.
É tão negro o labirinto
que vai dar à tua rua...
Só o fantasma do instinto
na cinza do céu flutua.
Tens agora a mão fechada;
no rosto, nenhum fulgor.
Não foi nada, não foi nada:
podia ter sido amor.


David Mourão Ferreira

23 novembro 2006

A borboleta do amor pela mão do "Escritor de Canções"...


Definição do Amor
"Amor é fogo que arde sem se ver
é ferida que doi e não se sente
é um contentamento descontente
é dor que desatina sem doer"
(Camões)
Que o poeta de todos os poetas
me conceda boa estrela
que a estrela de todos os astros
me premeie na lapela
prémios de honor
prefiro os muitos
oferecidos pelas mãos do amor
coroando o amor e seus heterónimos
nem vão caber nos Jerónimos
Amores anónimos não há
e assim foi pela madrugada
mesmo que seja um "assim fosse"
vou nomear-te namorada
ninguém já soube o que é o amor
se o amor é aquilo que ninguém viu
uma cor que fugiu
de um pano leve
e pairou serena e breve
no ar
(Pousa agora, borboleta
na pena deste poeta:)
É uma cor que dá na vida
o amor
é uma luz que dá na cor
É uma cor que dá na vida
o amor
é uma luz que dá na cor
mas é uma batalha perdida
que se trava com ardor
é uma cor que dá na vida
o amor
dor que desatina sem doer
Se devagar se vai ao longe
devagar te quero perto
mesmo que o que arde nunca cure
vou beijar-te a sol aberto
é já dos livros que o instante
se parece tanto com a eternidade
e que o amor, na verdade
só se cansa de ti
se de ti mesmo te cansas
Mordidas mansas, emoções
suspiros densos, afagares
liberto das definições
o amor define os seus lugares
ilhas desertas até ver
ver o sol, a chuva
o arco do corpo
arco-íris, corpo a corpo
cara a cara, cor a cor
incandescendo o olhar
(Pousa agora, borboleta
na pena deste poeta:)
É uma cor que dá na vida
o amor...
E ao pôr o dedo nas feridas
que supúnhamos curadas
provas de fogo atravessamos
no mar alto festejadas
não se controla o inesperado
nem se diz o indizível do amor
uma cor que fugiu
de um pano leve
e pairou serena e breve
no ar
(Pousa agora, borboleta
na pena deste poeta:)
É uma cor que dá na vida
o amor...

Sérgio Godinho, in Na Vida Real

30 outubro 2006

As emoções que a razão deve (re)conhecer


“(…)Andava a adiar este contacto mas, subi as escadas e ela estava lá em cima, apanhou-me no corredor e, durante para aí umas 2 horas, contou-me tudo, desde a primeira vez que a levou ao hospital até ela morrer. No fim, ainda puxou do telemóvel para me mostrar uma fotografia da filha no caixão! Eu já estava angustiada e, aí não me contive e, desatei a chorar à frente dela. Sei que não o devia ter feito e não sei o que se passa comigo e me levou a não ter capacidade para lidar com esta situação(…)”.

A propósito do apelidado “profissionalismo”, uma colega verbalizava, angustiosamente, este episódio que teve lugar na prática do seu exercício profissional. Ela havia iniciado acompanhamento social a esta senhora e respectiva família, aquando do nascimento da sua segunda filha. A segunda graça desta senhora tinha nascido sob o signo da desgraça de uma patologia genética, nunca identificada durante a gestação, que obrigava a especiais cuidados de saúde. A precária situação económica da família, aliada à insalubridade da habitação onde residiam, tornou obrigatória uma perspectiva de saúde que ultrapassasse o tão ainda enraizado modelo bio-médico, chamando a intervir outros técnicos, que não médicos.
Mas não é a discussão sobre uma intervenção multidisciplinar a de que me ocupo hoje, essas barreiras epistemológicas caberão, certamente, a um outro momento.
Uma análise linear deste episódio pode ocasionar uma reprovação imediata, assim como o velho ditado não admite que um homem chore, menos admissível é que o choro venha de um profissional no exercício da sua actividade. Esta humanidade está-lhe vedada nesta sociedade tecnicista.
Ninguém fica indiferente à morte, menos ainda quando esta ceifa vidas em início de percurso. As crianças, ao olhar adulto, trazem consigo uma redoma protectora que as apresenta como seres imortais, fazendo absurdo qualquer percalço.
Por isso, amiga, não te escudes na técnica para te escusares a ser humana e continua a inquietar-te, porque é vital enquanto garantia de um agir emocionalmente inteligente! E, se a tua humanidade deu lugar ao choro, que tantas vezes foi riso, então é porque ainda és capaz de continuar!

14 setembro 2006

Por terras de Saramago!

El Golfo - Lanzarote; Foto por Caucau

Eis-me em terras de nuestros hermanos...porém, atenta ao que se passa em terras lusas!
Parece-me, no entanto, que nada se tem passado de realmente significativo!!
Percebo porque o Saramago se mudou para cá!! Aqui valoriza-se o que de mais belo a Natureza construiu, aliando a essa beleza pequenos retoques do homem pela mão de um Mestre chamado César Manrique. Aqui vive-se harmonia entre progresso e natureza, entre Homem e Terra.

07 agosto 2006

No Breu

Convento de Alpendurada; Foto por Caucau

Estava o amor acomodado
no breu do sótão dos afectos
e tu ardilosamente iluminaste-o!
Chamaste-o à ribalta da vida,
conferiste-lhe forma, cor e odor.

Incrédula, quase acreditei!
Mas a artificialidade da luz corrompeu-o.
Recomendaram-te prudência
e tu não te rogaste ao conselho,
rogaste-nos ao amor!

Circunstancialmente humanos,
inevitavelmente frágeis,
exigia-se protecção
face a tão inebriante sentimento.
E eu que embora frágil, sou ágil!

Lúcida e imprudente,
frágil e ágil,
racional e emocional,
profetizo a luz que focará
outros amores... profetizo-nos!

Caucau

23 julho 2006

"Cinema Fora do Sítio"



Nesta invicta cidade tem acontecido cultura...democrática ! Refiro-me à continuidade da louvável iniciativa denominada "Cinema Fora do Sítio", promovida pela Culturporto. Não, não julguem que presido a uma qualquer associação à qual a Câmara Municipal do Porto oferta uns "cobres" em troca do bem dizer!!! Descomprometida com os poderes, sejam eles quais forem, apetece-me tão somente louvar esta iniciativa, de que tenho (usu)fruido e que é uma espécie de três em um: cinema de qualidade; acessível a qualquer cidadão, dada a sua gratuitidade; em locais que fazem parte do roteiro cultural da cidade, por vezes desconhecido a quem a habita.

13 julho 2006

Lenine...In Cité


Ontem assisti, pela primeira vez, a um “show” deste brasileiro, de Pernambuco, na Casa da Música.
O concerto foi memorável. Fui transportada pela sua música, envolvendo-me nas melodias com que nos presenteou. As suas letras reflectem um olhar lúcido sobre esta sociedade diria, dos objectos perecíveis, conduzindo-nos a questionamentos mil, sempre com porta aberta para o optimismo! A mudança é sempre possível e começa em nós próprios!

08 julho 2006

O Amor é ...



E porque o AMOR é algo extraordinariamente simples, tornado complexo apenas pelos adultos, regressemos às coisas simples da vida e voltemos animadamente à infância! Deixem-nos ser felizes!

Amor é...

partilhar uma canção especial
aceitar-te tal como és
dividir contigo as minhas pipocas
um telefonema
dar-te uma mão
ter confiança
tentar fazer-te rir
ouvir sem te interromper
ser delicado
ver, apesar de tudo, aquele aborrecidíssimo programa de televisão
ajudar-te nas tuas batalhas
esperar que não te tenhas esquecido
passear juntos à chuva
receber flores mandadas por ti
ser tolerante
acordar-te a meio de um pesadelo
fazer projectos contigo
morrer de vontade de saber o que estás a fazer neste preciso momento
saber perder
deixar-te ganhar mesmo sabendo que podia dar-te um capote
ficar feliz com a tua felicidade...embora não seja coisa fácil
um empurrão na direcção certa
não te aborrecer
ser fiel até ao fim
fazer-te cócegas
o empenho em escrever-te
odiar as despedidas
proteger-te
dançar agarradinhos
esconder-me para te ver chegar
um beijo de boa noite
sorrir mesmo quando te fazem esperar
passear de mãos dadas.


in "Amor é...passear de mãos dadas"
Charles M. Schulz

27 junho 2006

Devolver-me

Convento de Alpendurada; Foto por Caucau

A mim mesma
devolver-me intacta.
Esbracejei, chorei,
fracturei meu suporte físico
intacta permaneceu minha alma.

Intacta a alma
reforçados os afectos
reposta a harmonia
devolvi-me ao âmago de mim!

Desejo compartilhar meu âmago
no coincidente encontro com o teu
brindando, brindando-nos
no escuro iluminados
com a nossa própria LUZ!

Caucau

Voar


Voas com asas de sorriso,
Joaninha alada
sorriso alvo,
incandescente olhar,
rosto cândido.

Provocas-me sorrisos
que redescobri para ti,
reflexos de um Eu passado
contigo aprendi
que o passado é presente
quando o imperativo é voar!

Permite-me que pouse na tua asa,
voamos juntas num apertado abraço
com que sempre me presenteias,
retribuo com um efusivo silêncio
e afectuosa contemplação.

Ternura incomensurável
força motora para voos domésticos
à procura e ao encontro de Joaninhas
que voem com as minhas asas!

Caucau


30 maio 2006

GIRASSOL


Gira o girassol

continua a girar

a penumbra há-de passar

são névoas

só para relembrar que o sol

há-de (re)espreitar

…para ficar!

Caucau

18 março 2006

Paraty - Brasil

Paraty; Foto por Caucau

Recomendo...que saudades!!!

Praia dos Salgados - Albufeira

Praia dos Salgados; Foto por Caucau

Eis uma das minhas praias algarvias preferidas, da qual sou frequentadora habitual há aproximadamente 14 anos. Na época chamava-se Praia Boca da Lagoa, pois tinha, e ainda tem, uma lagoa logo à entrada da praia. Agora, com a edificação do "Salgados Golf" e respectivos condominios, até o nome da praia foi alterado!Antigamente tinha poucos frequentadores, a maioria das pessoas aglomerava-se nas vizinhas, e afamadas, praias da Galé e de Armação de Pera, que ladeiam esta praia. Actualmente está sempre repleta de turistas... É o antes e o agora...uma coisa mantém-se é uma praia lindíssima, com areal limpo e de águas cristalinas, translúcidas. Saudades...

16 março 2006


Beleza e liberdade Posted by Picasa

A beleza invejável do cisne e a sua dança da liberdade fazem-me pensar que somos apenas e tão somente... humanos!

Cidadania...


Pois é, eis mais um chavão amplamente difundido, no plano teórico, obviamente, mas sem tradução prática!
Tantos anos de "paz sem voz" fazem com que esta matéria não passe de um processo, ainda em fase muito embrionária, sendo que o embrião tem sofrido sérias ameaças intra-uterinas!
É apenas um desabafo de alguém, cuja profissão está intimamente comprometida com a defesa dos Direitos Humanos, e que quotidiamente intervém contra a sua violação e, maioritariamente, para minorar os danos sofridos por estes terem sido violados.